Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade.
(Fernando Pessoa in ‘Os Outros Eus’)
Somos heróis de nossa própria jornada. E todo herói traz consigo uma missão, relacionada essencialmente à sua pessoal mitologia. Decifrá-la e, sobretudo, provar dela, talvez seja aquilo a que de mais alto deve aspirar a alma em sua peregrinação pelo grande labirinto da existência.
A mitologia pessoal é toda ela fonte original de nossas potenciais capacidades, verdadeiro e inesgotável manancial de vida onde pode a alma banhar-se toda vez que sente necessidade de mergulhar em si mesma mais profundamente, no intuito de reconhecer seus essenciais talentos, a fim de os ver um dia despertar e florescer à luz da própria consciência.
Nesse sentido, a mitologia pessoal responde pelo assim chamado drama da existência, do qual é depositária. O desdobramento desse drama bem como sua realização, isto é, nossa travessia terrena, faz-se repleta de bênçãos e desafios, e traduz-se através dos personagens, cenas e situações arquetípicas com os quais nos relacionamos conquanto seguimos em frente pelos caminhos da vida, cumprindo nosso fabuloso processo iniciático. Vivenciar a mitologia pessoal nos obriga, pois, a visitar cada uma das estações anímicas detentoras das grandes lições a serem assimiladas (arquetipicamente, estas ‘Estações da Alma’ acham-se muito bem representadas na pictografia do tarô), algo que nos leva a vivenciar, inclusive, diversas operações alquímicas de seguidas mortes e renascimentos pelos quais devemos passar, mediante o que, ao longo de toda a jornada, somos verdadeiramente transformados.
Explorar a mitologia pessoal e interpretá-la à luz da Alquimia é no que se resume toda a práxis da Psicoterapia do Encantamento. Nada há que seja mais curativo para o indivíduo do que entrar conscientemente na posse de si mesmo, algo que, entretanto, só é possível quando a alma se inclina a percorrer seu essencial caminho, aquele que a fará descobrir os reais talentos de que nasce dotada, potências estas que se acham holograficamente gravadas no mapa natal de cada indivíduo, a dar conta dos mitos e também dos deuses que nos auxiliam ou nos criam desafios ao cumprimento de nossa pessoal missão. Por isso, a Psicoterapia do Encantamento enxerga em cada indivíduo um peregrinerói, ou ainda um peregrinalquimista de sua própria jornada. Todos somos este herói que conquanto caminha se trabalha, que conforme segue a estrada escreve sua própria história, na diária faina de lidar com o mundo, com os outros e, sobretudo consigo mesmo, ousando tanto enfrentar os mares bravios quanto seus mais íntimos temores. Só assim pode o herói penetrar em suas mais secretas salas em busca de seu pessoal tesouro, aquele que, silente e nobre, desde os primórdios nos espera guardado no relicário de nossos próprios corações.
A mitologia da alma pede consciência e expressão. É ela, pois, tanto a estrada pela qual seguimos quanto a voz que nos convoca a percorrê-la, e que nos orienta a cada passo, a cada desafio de encruzilhada. Realizar esta jornada é trazer nossa essência à luz da consciência, é fazer prosperar o divino dom que faz de cada um de nós um missionário herói na lide de sua singular e intransferível missão. Se não fizermos por nós, quem o fará?
MITALMA
Nas almas em potência moram os mitos;
são eles: nosso nome, o qual foi dado,
nosso mapa em planetas constelado,
e, claro, os nossos sonhos mais bonitos.
Que heróis sonham melhor quando acordados;
na lide de seus dramas, quando aflitos,
é que heróis bem melhor cumprem os seus ritos,
e entendem sua missão em meio aos fados.
Que as flores nem os rios sabem a missão,
são eles pura essência em plenitude…
Que angústia tem um rio? Que aflige a flor?
Já o drama da existência implica dor
e heróis são consciência em atitude,
são voz, são vida e sonho, e… coração!
Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo
decassílabos heroicos – 20 de novembro, MMVIII
…”heróis são consciência em atitude,
são voz, são vida e sonho, e… coração!”
Gratidão!