Aquariano de 10 de fevereiro, há poucos dias completei 45 anos. Abençoado dia em que estive na companhia das pessoas mais íntimas, incluindo mãe, irmã e filha.  Para os que dizem que a vida começa aos 40, só posso confirmar o dito confessando que ultimamente me descubro feito uma criança de cinco anos, dessas que brincam ao sol quando há sol, que correm ao sabor do vento, que dançam na enxurrada quando chove, que se assombram em descobrir algo novo nas diferentes coisas e, principalmente, das que se contentam com o que têm de mais precioso e simples, nada além do estar onde se deve e ser feliz em seu maior prazer de simplesmente estar.

Samsara e os Ciclos da Vida

Claro que nem sempre sou essa criança; ora no vórtice de preocupações desmedidas, ora movido por ansiedades sem conta, ou mesmo retido por certas (m)águas corredeiras, nem sempre sei apreciar devidamente o maravilhoso instante do agora. E não há maior razão para que chamemos o agora pelo nome de presente, posto ser ele próprio a soberana dádiva. E uma vez que saibamos aceitar esse presente, sempre que nossos corações se permitem preencher pela alegria em recebê-lo, descobrimos que é possível estar feliz onde de fato nos encontramos, na serenidade do sagradinstante.

Ora, completar 45, trilhados passos, leva-nos àquele momentâneo e prazeroso descanso sob a frondosa árvore do caminho; e assim, ali sentados a sós ou cercados dos entes mais queridos, comungamos da bênção que nos convida a mais um banho nas oportunas águas do agora. E será assim, ano após ano, inexorável é o curso e sábio quem saiba aproveitá-lo, que um dia chegaremos ao jardim das almas que, transposta a ilusão do mundo, exalam seu perfume de jasmim embebidas das águas da eterna fonte das crianças. É hora, pois, de brindar a nova Vida!

SONETANIVERSÁRIO

Escrevo este sonetaniversário,
presente que hoje eu mesmo dou pra mim;
45: estou em meu jardim,
floresço em meu silente ano-orquidário,

que orquídeas fazem anos sempre assim.
O espelho me relembra o itinerário;
meus olhos descortinam o horizontário
dos passos que darei para o meu fim.

Metade de 90 faz tim-tim!
Brindemos pelos céus, pela missão;
a vida é roda-viva em corrupio,

desde o berço desfia-se o seu fio
até que em teia cubra um dia o chão
das almas cujo olor ora é o jasmim!

Paulo Urban
decassílabos heróicos
noite de 10 de fevereiro, MMX