Eram mandalas de arcabouços bioneuroquímicos que se abriam e se fechavam, ora engolindo, ora cuspindo as suas já mais perdidas certezas, imagens presas em multicoloridas contas de sinapses, caleidoscópicas miragens dançantes entrespaços absconsos, todas juntas revelando o universonírico na lâmina brilhante e platinada dos espelhos dos neurônios.
Linguagem cristalina do divininconsciente, mapa náutico de todos os argonautas, pedra filosofal da mitologia pessoal, os sonhos cumprem seu papel catalisador de precipitar a nossa queda no profundabismo de nós mesmos. À mesa, sentado entre Thanatos e Morpheu, encontra-se o homem, que inebriado adormece ao beber da extremeterna taça de seus sonhos.
SONO-MOR
Sonhava o sonhador um sonho estranho:
via-se estranhamente despertando
e impressionado cria-se anotando
mensagem recebida em céu de estanho.
Plasmalíqüis catódicos em bando,
matrizes de holograma azul-castanho,
caleidoscopionírico emaranho
é o sonhador em sonho assim sonhando.
O sonho em pesadelo entrou medonho:
titânicos vulcões jorravam ouro,
dragões beijavam o mar sons estalados,
golfinhos de armadura encouraçados
vazavam em cruzmitarra o cristão-mouro;
estranho, o sonhador sonhava um sonho!
Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo