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Arteterapia

Entrevista de Paulo Urban concedida à Mestra Maria Teresa Provenzano da Luz, arterapeuta, publicada em sua dissertação de mestrado, LAUREADA com distinção pela banca examinadora do Depto de Psicologia da Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo, (RS), em março de 2008.

ARTETERAPIA E EMPONDERAMENTO: 

DE LAGARTA A BORBOLETA, UMA ESCOLHA POSSÍVEL 

nota: exceção feita à ilustração de capa da referida tese, todas as demais ilustrações aqui apresentadas são produções de artistas selecionadas do Concurso de Poesias e Pinturas “Arte de Viver”, publicadas no livro homônino, março de 2000, que recebeu patrocínio da Janssen-Cilag com base na lei de incentivo à cultura e apoio do Ministério da Cultura.
Jacob Klintowitz foi o curador do Projeto Arte de Viver, e
Aldemir Martins o presidente da comissão julgadora de artes plásticas.    

Algumas notas curriculares a respeito da mestra Maria Teresa (Maitê) Provenzano da Luz:

Professora de Geo Economia e História;
Organizadora da Mapoteca do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul;
Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (1993 a 1995);
Artista Plástica, escultora e artepsicoterapeuta.

Para conhecer melhor o extenso e fecundo trabalho de Maitê Luz, visite: www.maiteluz.com

Mandala de Luz, capa da Tese em Arteterapia, por Maitê Luz

Mandala de Luz, capa da Tese em Arteterapia, por Maitê Luz

ENTREVISTA

1. Como a Psicologia Analítica vê a Arteterapia? Ou… onde está, onde se enquadra na Psicologia Analítica, a Arteterapia? Qual a sua importância?

Ora, o que primeiramente deve ser dito é que a psicologia analítica, seja como instrumento terapêutico, seja como um sistema de compreensão de nosso psiquismo, não traz por ambição opinar sobre o valor estético das obras de arte, nem pretende criticar qualquer autor, bem como suas respectivas produções artísticas, muito menos sabe explicar esse fenômeno psico-cultural, que se traduz por tudo aquilo que possamos chamar de manifestação da arte. Estes domínios estão sob prerrogativa dos críticos e dos acadêmicos.

Por outro lado, ao olhar da psicologia analítica, em sua construída tese acerca da realidade psíquica dos arquétipos, que são vistos como entidades vivas e funcionalmente presentes na alma individual e coletiva, jamais poderia passar despercebido o fato de que toda e qualquer produção artística mais elaborada, traz inevitavelmente, per si, nuances de um colorido simbólico coletivo que, propriamente, são manifestações genuínas do dinamismo desses arquétipos, filtrados, claro, pelas capacidades artísticas e criativas do indivíduo que as expressa.

Diante disso, a psicologia analítica se entretém com a decifração simbólica do material artístico que vem à luz, aquele que, deixando as profundezas coletivas do Hades, cruza o Estige da alma individual e se materializa no interregno clínico. Tais produções geralmente trazem elementos que não somente podem nos fornecer um panorama de como era (ou estava) o psiquismo coletivo à época da humanidade em que ganharam vida, como também nos fornecem valiosas pistas em relação à natureza psíquica daquele que os produziu, dando-nos inclusive uma razoável idéia quanto à orientação arquetípica de sua alma.

Nesse sentido, a arteterapia assume particular importância, pois abre caminhos para indagações e reflexões mais profundas acerca do psiquismo humano em seu estado puro, criador de imagens, podendo, através dos elementos simbólicos expressos, encontrar uma via segura de interlocução e de entrada para os domínios interditos da alma.

Reflexão, acrílico sobre tela, de Luís Santos Silva, 1999, (BA)

Reflexão, acrílico sobre tela, de Luís Santos Silva, 1999, (BA)

2. O doutor acredita que a Arteterapia possa abrir um importante caminho para o interior da psique, estabelecendo canal de comunicação entre paciente e terapeuta? Conseguiremos melhorar e fortalecer, por meio da Arteterapia, a qualidade de vida emocional/afetiva?

Claro que sim. Se compreendermos a importância de toda produção artística como porta de acesso ao inconsciente profundo, devemos admitir então que ela seja uma via de mão dupla, a partir da qual se torna possível inferir, considerando o material simbólico projetado (aquilo que vêm à tona em cada produção), algo do que se passa nos domínios da alma individual que, por sua vez, sempre se encontra em sintonia com determinados temas arquetípicos presentes ou recorrentes, que acabam sendo notados por detrás do véu subliminar da produção artística que os protege ou disfarça.

Esta via de dupla mão que se estabelece através da arte, esse canal que permite operar o diálogo entre consciente e inconsciente, ganha dimensão terapêutica quando se torna via recíproca de interlocução saudável entre o agente curador e seu paciente. O arte(psico)terapeuta, entendo, seria aquele que se propõe a melhor compreender os mistérios desse trajeto e passa a explorar os acessos que ele viabiliza como oportunidades de troca, criando um vínculo emocional seguro com seus pacientes que lhe permita trabalhar em prol de sua cura psicoemocional.

Sementes, óleo sobre tela, Jussara Regina Marchezini, 1997, (MG)

Sementes, óleo sobre tela, Jussara Regina Marchezini, 1997, (MG)

3. Que efeitos terapêuticos poderemos alcançar com o auxilio da Arteterapia em crianças e adolescentes?

Todo psiquismo, seja ele adulto, maduro, ou infantil, tem por função inata e perene gerar toda uma série de imagens arquetípicas. Mas deixemos claro: a simples emergência de tal conteúdo simbólico não caracteriza por si só obra de arte alguma, mesmo porque tais arquétipos estão naturalmente presentes em seu estado original em nossos sonhos, fantasias, devaneios, e não requerem elaboração artística de nenhuma espécie para que se apresentem nus e crus ou disfarçados à nossa mente consciente.

Para que determinada produção se caracterize como arte é preciso, antes de tudo, que nela possamos reconhecer certas características próprias do processo criativo pertinentes à complexidade e à sensibilidade envolvidas em sua elaboração.

Claro que um psiquismo adulto, bem como o de um jovem em processo de amadurecimento, poderão melhor elaborar que uma criança as imagens primordiais que nele habitam, e dar assim a elas certo colorido estético que permita ser classificado como arte. Isso não quer dizer que uma criança não possa trazer também consigo talentos inatos e expressá-los como verdadeiros dons artísticos, afinal, sempre há crianças-prodígio capazes de produzir pura arte que nenhum adulto jamais saberia expressar com tanta perfeição.

Entendo, entretanto, que a questão aqui não se refira ao valor estético ou cultural daquilo que crianças e adolescentes possam expressar, senão ao quanto de sua produção possa ser expressão plástica de seu mundo interno, repleto de imagens e arquétipos que nos desafiam a compreender seus obscuros significados. Tais elementos nos servem como passagem, como ponte para uma interlocução verdadeira e melhor reconhecimento dos padrões emocionais que jazem sob o material “artístico” emergente.

Nesse sentido, independentemente da faixa etária do indivíduo, pouco importando se estamos diante de uma personalidade já desenvolvida, ainda incipiente, ou em franco processo de desenvolvimento, o principal é saber que todo e qualquer psiquismo pode ser abordado através da porta que, não por acaso, ele mesmo nos abre toda vez que se expressa artisticamente, seja por meio de pinturas, composição poética ou musical, expressão dramática etc…

Ora, guardadas as diferenças conceituais entre aquilo que possa ser considerado arte e todo o resto, isto é, aquilo que ao menos representa uma produção simbólica pessoal, o caso é que tanto artistas e gênios, como as pessoas comuns, procuram ambos ao seu modo transmutar os elementos arquetípicos que lhe são próprios e, através deles, sintetizar os contrastes e as incoerências que caracterizam seu amálgama emocional, bem como seus conflitos internos que geralmente vivem presos a núcleos neuróticos latentes. Artistas ou não, o caso é que todos somos capazes de expressar através de capacidades criativas as mais naturais e espontâneas, os nossos mais bem guardados sentimentos, elevando-os, senão à sublime qualidade de arte, ao menos à possibilidade de interlocução, de contato e de exploração, também como via de relacionamento nosso com o meio e, por que não, como um sincero pedido de ajuda, um apelo à possibilidade de uma eficiente e curativa intervenção terapêutica sempre que ela se faça necessária.

O Interior da Caverna, óleo sobre tela, Antônio Gomes, 1999, (SP)

O Interior da Caverna, óleo sobre tela, Antônio Gomes, 1999, (SP)

4. Reestruturar a auto-estima, reconstruir, fortalecer e empoderar emocional e afetivamente uma adolescente abandonada e vítima de violência doméstica com a Arteterapia , consoante seu modo de ver, é tarefa possível?

Não só creio seja isto viável, como é imprescindível que possa ser feito. Os alcances da arteterapia são de fato muito abrangentes. Mas não devemos esquecer as características particulares de cada caso e decidir quais são as prioridades terapêuticas, isto é, passo a passo estabelecer as diretrizes, a estratégia de abordagem de nossos diferentes casos. Difícil querer propor uma sessão de arteterapia para quem acaba de ser internado em franco surto psicótico, sem capacidade mínima para concentrar-se; ou querer que alguém que tenha sido vítima imediata de violência doméstica sinta-se à vontade para expressar-se artisticamente, enquanto ainda se encontra sob impacto do trauma corporal sofrido, precisando concretamente, além do apoio psicológico e de esclarecimentos jurídicos, antes de tudo, de um coração e um par de ouvidos.

Mas, é claro, todos os caminhos terapêuticos têm sua funcionalidade, sua eficiência e seu caráter curativo. Por que não seria a arteterapia uma das ferramentas adequadas a reestruturar nossa auto-estima, a nos recolocar diante de nossa própria dignidade ameaçada sempre que sofremos episódios de agressão ou outras tantas violências? Talvez esteja aí uma das maiores virtudes da arte, a de dar vazão a tudo de “bom e de ruim” que precisamos expressar, transmitir, purgar ou exorcizar. Ela nos oferece também a chance irracional de pôr pra fora aquilo tudo que não mais queremos suportar, aquilo que mal compreendemos racionalmente, mas que tem sido o peso em chumbo de nosso mundo emocional. Tudo aquilo que expressamos guarda, em tese, verdades que às vezes nem cabem mais em nós, são pesos que nos atrasam os passos, amarram-nos à sombra de nós mesmos, e seu respectivo material simbólico nada mais é que um lancinante pedido de ajuda, um clamor sincero para que seja identificado e bem interpretado, em busca de sua curadora re-significação. Tudo o que vem de nós não nos deveria ser estranho; por isso, merece ser primeiramente identificado e reconhecido, para que, a partir de sua manifestação, possa ser terapeuticamente trabalhado. Re-significar nosso mundo interno, bem sabemos, acaba mais cedo ou mais tarde nos levando a um caminho curativo pela assimilação e pela transformação de valores que são essencialmente nossos e que devem deixar de pesar feito chumbo alquímico em nosso inconsciente; todos os elementos soturnos que trazemos devem ser pacientemente operados até que possam ser trazidos à luz da consciência e então reencontrar sua importância, seu devido valor e seu real brilho no equilíbrio da absoluta mandala alquímica em que se traduz o psiquismo ele todo.

"Passado" - Vida Sofrida, acrílico sobre tela, Elisalva Gomes Rodrigues, 1999, (BA)

“Passado” – Vida Sofrida, acrílico sobre tela, Elisalva Gomes Rodrigues, 1999, (BA)

5. Qualidade de vida e reconstrução afetiva é o que nos propomos. Será isto possível através da Arteterapia?

Creio seja o principal papel da arte o de nos fazer sentir. A arte existe para nos tocar; é ela quem nos arremeda a novos sentimentos e provoca o despertar em nossas almas de seu quê de visceral, fazendo pulsar o aspecto radical divino que em cada um de nós reside de forma latente. A arte, dado seu caráter evolutivo e criativo, propõe-nos sempre uma viagem rumo ao inesperado, provoca em cada viajante a percepção de sentimentos sublimes, depurados, incomuns à ordinária percepção da consciência. Por isso é que ela, concomitantemente nos leva, nos enleva e nos eleva. E, às vezes, tem ainda o poder de nos alçar, de nos arrebatar a patamares inéditos de entendimento, a estados ampliados de consciência. Nesse sentido, a arte é tanto uma via de expressão como de educação e aprimoramento de nossa alma.

Mas é bom lembrar, como há pouco dissemos, que pacientes não são artistas. Quando quer que meramente se permita aos pacientes que seus conteúdos inconscientes ganhem expressão no âmbito terapêutico, passa a ser obrigação do arte(psico)terapeuta analisar e interpretar devidamente com (e para) o paciente o intrincado aspecto de seu material simbólico, sob pena de, em não se fazendo isso, apenas perpetuar seu estado de desequilíbrio psíquico, ou ainda piorá-lo por negligência clínica.

Nesse sentido, palavra e linguagem são peças imprescindíveis para que se estabeleça a confiança entre paciente e terapeuta, no intuito de que ambos possam se aproximar e reciprocamente oferecer um ao outro a chance de melhor se (re)conhecerem e juntos trilharem os caminhos possíveis em busca da almejada cura psicoemocinal. Para melhor integração de certos valores inconscientes é, pois, necessário que haja o reconhecimento e assimilação verbal dos processos psíquicos que estão a eles intrinsecamente relacionados. Só assim, mediante o trato direto com esses nossos aspectos ocultos, é que poderá o indivíduo realmente tanto enfrentar-se a si mesmo como transmutá-los e trazê-los de forma saudável à luz da consciência, de modo a colaborar para a melhoria de qualidade e amadurecimento de sua vida psicoemocional.

Orientação, acrílico sobre tela, Helena Klug Tavares, 1999, (RS)

Orientação, acrílico sobre tela, Helena Klug Tavares, 1999, (RS)

6. Em que consiste, para o doutor, a cura? …é ela uma verdade para a Psicologia Analítica ?

Bem, pude tranquilamente valer-me até aqui da psicologia analítica como referencial teórico para todas as questões acima, conforme estas me foram formuladas, mas, em se tratando da questão crucial da cura e de como ela se processa, prefiro responder a isso como Psicoterapeuta do Encantamento, em acordo com minha própria abordagem psicoclínica, cujo escopo teórico e práxis terapêutica vêm sendo passo a passo construídos, à medida que recolho e vivencio uma particular e cotidiana experiência terapêutica, desde quando me formei há 20 anos em medicina e me especializei, há 17, em psiquiatria e psicoterapia.

A Psicoterapia do Encantamento tem a psicologia analítica apenas como um de seus mais importantes referenciais teóricos e preocupa-se, sobretudo, com o caráter alquímico de todo o material simbólico inerente ao psiquismo profundo pessoal ou coletivo, conforme esses limites foram estabelecidos por Jung.

Portanto, se é possível falar de uma cura psíquica, prefiro dizê-la dentro do estrito âmbito terapêutico que professo, e fazê-lo a partir de critérios próprios, com os quais me sinto mais à vontade para inferir o que podemos esperar ou não dos casos com os quais lidamos em nossa prática psicoterapêutica corrente.

Segundo propõe a Psicoterapia do Encantamento, a cura em si é sempre algo simples, difícil mesmo é se chegar a ela. Isto porque a verdadeira cura exige a transmutação (sempre um processo profundo e radical, embora às vezes, de caráter instantâneo) do padrão patológico operante, gerador e determinante de sintomas, síndromes e várias outras situações mórbidas, neuróticas ou psicóticas. Tal padrão é o que, em última instância, precisa ser primeiramente corretamente identificado e isolado, para daí, então, ser psicocirurgicamente tratado. Entrar no coração de cada paciente é tarefa xamãnica, que muitas vezes, quase sempre, transcende os limites do discurso. É algo ainda que só pode ser feito na sacralidade, com silêncio e oração, é o mesmo que adentrar num santuário. Encaro ainda o coração dos meus pacientes como um verdadeiro laboratório alquímico, termo este oportuno, pois é justamente nos interior dos laboratórios (lugar de trabalho + oração: labor + oratório) que os alquimistas processavam suas queimas e reações, sua misturas e dissoluções, até que pudessem com toda a paciência e perseverança do mundo encontrar o extrato (a pedra ou o elixir) capaz de catalisar seus processos psíquicos mais profundos, necessários à evolução e ao despertar de sua própria consciência.

Portanto, só mesmo penetrando no laboratório de cada paciente e procurando senti-lo em sua essencial condição é que podemos presumir onde está guardado o foco a ser mexido, o nó a ser desfeito, o sacrário onde se oculta a hóstia divinal da cura, a mandala que precisa ser tratada, o núcleo a ser transformado, o padrão psico-energético que clama pelo bisturi capaz de extirpá-lo, a fim de que se possa a partir disso instaurar-se o processo de cura em todo o psiquismo.

Claro é que tal processo de cura, tão logo seja deflagrado, poderá ainda levar toda uma época, anos talvez, uma vida inteira ou ainda muitas vidas até que se realize em sua plenitude cármica, puro e por completo. Sempre que alcançamos os núcleos emocionais, sejam eles de natureza psicorgânica, ou entraves neuróticos ou psicóticos a serem mexidos, e assim o fazemos, temos aí a chance de transformar os velhos padrões mórbidos de funcionamento psíquico. Curar é pôr a mão na teia, é percuti-la e desfiá-la, é tocá-la para transformá-la, é refazê-la se preciso, é tecê-la nova e limpa, sobretudo, com amor.

Uma vez tendo sido alcançada a real transmutação alquímica daquilo que até então se comportava como nodo doentio, é que a verdadeira cura então se opera, ao menos é a partir daí que seu processo se instaura, processo este que pode ser algo instantâneo ou deflagrador de mudanças evolutivas que irão ocupar anos a fio de nossa existência, quiçá ela toda, ou ainda muitas vidas além desta. Isto porque a psicoterapia do Encantamento não visa simplesmente à cura da personalidade, senão à da alma essencialmente, essa mesma que assume a cada existência as suas diferentes vestes.

Por um Fio, óleo sobre tela com colagem e barbante, de Maria Theresa Bertone Cardoso Maia Baroni, 1999, (SP)

Por um Fio, óleo sobre tela com colagem e barbante, de Maria Theresa Bertone Cardoso Maia Baroni, 1999, (SP)

7. Utilizando a linguagem da arte conseguiremos atingir melhor o centro do problema e assim praticar a Arteterapia com maior efeito?

Bem… vamos aqui tentar esboçar uma resposta:

CURARTE

Andei por entre a estrada pirambólica
buscando o centro, o núcleo de teu veio;
além do falo e Freud, boca e seio,
atravessei o Estige em nau simbólica.

Na tua produção em telas leio
a música dos deuses, voz eólica,
que me soprando a imagem em hiperfólica
faz respirar minha alma no teu meio.

E assim nos vislumbramos face a face,
em arte refletindo a dancescura,
pisando os mesmos passos-sentimentos.

Pois antes que o temor a ti tomasse,
o amor colheu teus rios de sofrimentos
e abris-te d’alma a porta para a cura!

Paulo Urban
decassílabos heroicos, 18 de março, 2008

2 Comments

  1. Dr. Paulo Urban!
    Muito me honra e enriquece toda e qualquer conversa que tenho com o senhor, mais ainda o fato de te-lo entre meus amigos. Amigo que enriquece, que generosamente abre seu profundo conhecimento para todos que o procuram. Amigo que não exitou em ajudar-me quando necessitei de todo e qualquer conselho para fundamentar meus conhecimentos. Amigo que cede seu precioso tempo para, em nome do conhecimento e da saúde, partilhar seu manancial de luz.
    Muito obrigada, PAULO URBAN, por me honrar com tua amizade e carinho!

  2. PAULO JORGE BRITO E ABREU disse:

    Para a Psicoterapia do Encantamento, o canto, ou melhor, o carme, é da cifra, e é o charme – e o canto é romance, a maravilha, a cerimónia da Magia. E assertava, certeiro, o velho Aristóteles: a catarse, ou purgação, é uma forma de liberar as paixões vivendo-as, no «vídeo», de forma imaginária. A palavra «catharsis», a talho de foice, é proveniente, no advento, dos Gregos Mistérios, e foi aí, e ao «corpus» de Hipócrates, que a foi buscar, e retirar, o Autor da «Metafísica». Ou melhor: no «abaixamento do nível mental» que é o nerval para Janet, o abjecto é o dejecto: é preciso, pois, purgá-lo, e portanto eliminá-lo. No prolóquio, exemplar, da Língua Portuguesa, «quem canta seu mal espanta» – ora isso não seria assim, se não fosse, a grande Arte, ofício mágico-simbólico: pois se «o Eu é um Outro», na acepção de Rimbaud, através da Mimese o Inconsciente pessoal se liga, ledo e lauto, ao colectivo ou lectivo Inconsciente – e eis aqui o Sonho, ou melhor, o Psicodrama, do Jacob Levy Moreno; e se eis aqui o Auto, é preciso, pra ser Génio, digerir a diegese……………….

    PAULO JORGE BRITO E ABREU

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