INSPIRAÇÃO # 1 – por Homero Pimentel
(artigo publicado na sessão ‘Inspiração’ da “Revista Nova Consciência”, edição # 1, outubro/2007 – aqui apresentado na íntegra, sem cortes de edição).
Homero Pimentel (1939-2008), professor de História, autor do livro Fractais da História, a Humanidade no Caleidoscópio, editora Madras, prêmio Clio de História, em 2004, pela Academia Paulistana da História.
LIVROS A NUTRIR O ESPÍRITO
Muitos foram os pensadores que se ocuparam da questão dos livros e da necessidade de bem nutrir o ser humano com verdadeiro alimento, e de como a educação cumpre este papel revitalizador da cultura humana. Afinal, assim como precisamos comer para sustentar nosso corpo, a leitura é necessária para alimentar o nosso espírito. É de Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês, a seguinte citação:
“A leitura completa o homem, a aula prepara-o, a escrita torna-o exato!”
A esta frase, creio seja interessante acrescentar que:
“Não há nada melhor que despertar o prazer e o amor pelo estudo, caso contrário só se formam bons carregadores de livros”,
conforme nos ensina Montaigne (1533-1593), filósofo moralista francês, contemporâneo de Francis Bacon.
Ou ainda, sem deixar margens à hipocrisia, reflitamos no que nos diz Goethe (1749-1832), o mais célebre dos poetas alemães:
“A ignorância é a raiz de toda tragédia”.
Sir Francis Bacon pode ser considerado ‘o último dos antigos e primeiro dos modernos pensadores’. Por ter sido o introdutor do método experimental e indutivo de investigação da natureza, é visto ainda como um dos arautos da ciência moderna. Segundo William Rawley, seu capelão, secretário e biógrafo, Bacon “sentiu aversão pela filosofia de Aristóteles, não porque este carecesse de valor, uma vez que sempre reconheceu nele as maiores qualidades, mas pela infecundidade de seu método, sendo uma filosofia apropriada às disputas e contendas, mas de todo estéril para a produção de obras que visem a beneficiar a vida do homem”. Não à toa, Bacon nos deixou também esta frase:
“Um pouco de filosofia nos inclina o espírito para o ateísmo, mas a profundidade em filosofia nos leva de volta para Deus” (Ensaios, Do Ateísmo, 1597).
Isto me leva a lembrar de nosso imortal acadêmico, também jornalista, Humberto de Campos (1836-1934), que, considerando a filosofia antiga, diz:
“Sócrates é a semente, Platão, a flor e Aristóteles o fruto. É desta árvore, assim completa, que se tem nutrido o espírito humano”.
Mas aos olhos de Bacon, ainda que a semente fosse das melhores, parece que algum desvio houve em seus rebentos, pois o empirista clamava por uma reforma de todo o conhecimento humano, ambicionava promovê-la por meio de sua A Grande Instauração, obra em seis partes, cujo plano, entretanto, não chegou a ser inteiramente realizado. A segunda parte dela intitula-se Novum Organum, 1620. Nela o filósofo contrapõe suas idéias ao clássico Organum, obra mestra de Aristóteles; e, de mesmo modo, por meio de sua Nova Atlândida, publicação póstuma, de 1627, Bacon critica a República de Platão, remetendo-nos a uma sociedade modelo cujo êxito depende de um colégio de sábios que orientam a vida de seus cidadãos a partir da Casa de Salomão. Nova Atlândida valoriza a ciência operativa, que pretende manter-se distante dos gabinetes para estar centrada em sua tarefa prática de bem conhecer as forças interiores da natureza, capazes de estender aos homens seus poderes em tudo o que for possível.
“Saber é poder”, é a frase repetida por Bacon ao longo de todos os seus livros.
Questionando o valor do conhecimento meramente contemplativo ou teórico, Bacon deixa claro que cabe aos homens tomar uma atitude construtiva diante da vida, ele diz:
“… mas os homens devem saber que neste teatro da vida humana somente Deus e os anjos podem ser espectadores”.
Enfim, o saber, para Bacon, virtual per si, só encontra seu real valor se puder ser aplicado como ciência prática em toda a sua totalidade. Mas, voltando ao início de nossa conversa, juntemos ao sonho de um mundo melhor idealizado por Bacon a clara expressão de Monteiro Lobato (1882-1948):
“Um país se faz com homens e livros”;
… aí sim, caro leitor, creio que as sociedades possam mesmo ser mesmo mais justas, e Lobato, que emprestou toda a sua literatura à edificação do caráter dos jovens, nos ensina que é preciso cuidar das sementes, o que nos leva à famosa máxima de Pitágoras, século VI a.C.:
“Educai as crianças e não será preciso punir os homens”.