O CAIBALION EM SONETERMÉTICOS
SAGRADA CHAMA
Não deixeis apagar divina chama, (*)
saber dos ancestrais mestres oriundo!
Preserve-a cada qual em seu profundo,
no coração acesa eterna flama.
Que a vida é essa corrida de um segundo,
revezam-se os atletas, corre o drama,
mas passa-se o bastão, sim, quando se ama
às gerações que irão herdar o mundo.
Assim procede o nobre hermetista:
secreto o seu Saber, suas Doutrinas.
Por isso, preciosa a chama altiva,
um dia será gasta a cera viva…
Quem dera possa a vela antes ser vista
a propagar-se a outras lamparinas.
Paulo Urban
29 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
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* Verso inicial inspirado em trecho de extenso poema de Edward Carpenter (1844-1929), poeta britânico, constante de sua obra Towards Democracy:
“O, let not the flame die out!/ Cherished age after age in its dark caverns,/ in its holy temples cherished./ Fed by pure ministers of love– / let not the flame die out.// Within thy body I behold it flicker,/ Through the slight husk I feel quick fire leaping–/ O, let not the flame die out.”//
Que assim os traduzo:
“ Oh! Não deixeis morrer a chama!/ Mantida através dos séculos em sua escura caverna,/ em seu sagrado templo acalentada./ Sustentada por puros ministros do amor -/ Não deixeis morrer a chama!// Dentro de vós contemplo-a a cintilar,/ através de vossa tênue tez sinto-a a tremular –/ Oh, Não deixeis morrer a chama!”//
CAIBALION – I
(1º PRINCÍPIO HERMÉTICO):
PRINCÍPIO de MENTALISMO
“Enquanto tudo está n’O TODO,
é também verdade que O TODO está em tudo.
Aquele que compreende realmente esta verdade
alcançou o grande conhecimento”
O TODO é o Um, a Mônada absoluta,
o Incognoscível Espírito do Eu Sou,
a sarça que a Moisés se revelou
ardente e sábia, em fogo indissoluta.
Divina protocélula que entrou
em própria natureza pura e bruta
e fez-se Anima Mundi, alma incorrupta,
o Verbo que entre nós sempre habitou.
Por isso, tudo é Um, qual roga o Logos;
sim, o átomo e o Universo são um só
e as partes sabem inteiro o holograma…
Do Fogo primordial nascem outros fogos,
do Espírito a matéria espelha o drama,
D’us cumpre o Oroboro em Luz e pó!
Paulo Urban
19 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
CAIBALION – II
(2º PRINCÍPIO HERMÉTICO)
PRINCÍPIO de CORRESPONDÊNCIA
“O que está em cima é como o que está embaixo,
e o que está embaixo é como o que está em cima”
Eis a Segunda Hermética Verdade:
Quod superius sicut est quod inferius (*),
é a Lei de Trimegistus em seus Mistérios,
a fim de perpetuar a Unidade.
Porque é Três vezes Grande o Magistério:
é Físico e Mental na dualidade,
mas corresponde ao Espírito que invade
dos Céus à Terra tudo em corpo etéreo.
Por isso, somos o Homem de Protágoras,
medida para tudo, elo das Eras
entre as coisas que são e as que não são…
E ainda somos filhos de Pitágoras,
regendo nossas vidas, nosso chão,
consoante a Sinfonia das Esferas!
Paulo Urban
20 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
(*) “Assim como é em cima é embaixo”; dístico latino com que se inicia a segunda assertiva da Tábua de Esmeralda’, cuja autoria é reputada ao sábio Hermes Trimegistus.
CAIBALION – III
(3º PRINCÍPIO HERMÉTICO)
PRINCÍPIO de VIBRAÇÃO
“Nada está parado, tudo se move, tudo vibra”
Desde o indeterminado infinitésimo
até os mundos, galáxias e Universos;
das moléculas e átomos dispersos,
das estrelas aos ângstrons milésimos
a vida é Vibração, pulso converso
do Espírito à matéria. Abre-te Sésamo:
o Verbo em movimento de Incantesimo (*)
manifestadamente cria o verso.
Frequência e Vibração, a Lei é o Ritmo:
do denso ao mais sutil tudo são graus
que se elevam às oitavas dos clarins…
Teu nome é teu segredo mais legítimo:
desvenda-o e vencerás trevas e caos,
invoca-o e a ti virão os Serafins!
Paulo Urban
21 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
(*) Incantesimo (do italiano, ‘encantamento’), termo com o qual também se designa a ação de ‘soletrar’, correspondente ao ‘spelling’ do inglês, que igualmente ao italiano guarda também o sentido de ‘lançar imprecações, palavras mágicas, com o poder de realizar maravilhas’.
CAIBALION – IV
(4º PRINCÍPIO HERMÉTICO)
PRINCÍPIO de POLARIDADE
“Tudo é duplo, tudo tem polos, tudo tem o seu oposto;
o igual e o desigual são a mesma coisa,
os opostos são idênticos em natureza mas diferentes em grau,
os extremos se tocam, todas as verdades são meias verdades,
todos os paradoxos podem ser reconciliados”
Tudo é duplo, tem dois polos, Yin-Yang;
são mesma coisa o igual e o desigual,
opostos são idênticos, tal qual
tudo que vai nos volta em bumerangue.
Trevas são Luz, calor é o frio; é o grau
de amor que torna nobre o simples sangue,
e as diferenças vêm desde o Big-Bang
em que as polaridades, Bem e Mal,
Espírito e matéria, tiro e queda,
seja o fixo ou o volátil da Alquimia,
os prótons e os elétrons, corpo e alma,
são faces de mesmíssima moeda:
é o Cosmos ora ao dorso ora na palma
das mãos que em D’us se juntam em Conjunção. (*)
Paulo Urban
22 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
(*) Em termos alquímicos a Conjunção dos Opostos (Coniunctio Oppositotum), última fase do processo de transmutação, realiza-se pela formação do Rebis, isto é, pela reunião dos elementos opostos e ao mesmo tempo complementares entre si presentes na matéria a ser trabalhada. A Conjunção não raro se faz simbolicamente representada pelo sagrado casamento entre o Rei Vermelho e a Rainha Branca, figurativo da re-união/remissão das partes antes opostas e impuras para a formação do Homo Perfectus, a dizer, o Ser individuado de natureza andrógina, transformado e plenamente realizado em todos os seus aspectos, o chamado “Homem de Ouro” de Platão.
CAIBALION – V
(5º PRINCÍPIO HERMÉTICO)
PRINCÍPIO de RITMO
“Tudo tem fluxo e refluxo,
tudo tem suas marés,tudo sobe e desce,
tudo se manifesta por oscilações compensadas,
a medida do movimento à direita
é a medida do movimento à esquerda,
o ritmo é a compensação”
Tudo é fluxo e refluxo pendular:
a vida são marés cheias-vazantes,
são ciclos de Estações itinerantes,
mandalas que abrem e fecham sem cessar…
Todo Universo é Brahman em seus instantes:
são sóis que nascem e explodem num pulsar,
galáxias em semente a germinar
conquanto outras perecem sempre e antes.
Também no microcosmo tudo é dança:
vivemos das auroras e crepúsculos,
de humores que exasperam até os extremos…
Nascemos e crescemos e morremos:
gigantes só os que sabem ser minúsculos,
que os sábios buscam o centro da balança.
Paulo Urban
23 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
CAIBALION – VI
(6º PRINCÍPIO HERMÉTICO)
PRINCÍPIO de CAUSA e EFEITO
“Toda a causa tem seu efeito e todo efeito tem sua causa,
tudo acontece de acordo com a Lei,
o acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida,
há muitos planos de causalidade, porém, nada escapa à Lei”
Não desperdiça evento a Natureza,
o Carma é teia cósmica precisa,
nenhum acaso nunca se divisa
por trás de ocultas causas da justeza.
Sois vós mentor ou só peça indecisa
no jogo de xadrez da humana empresa?
Que a vida pede arbítrio, com certeza,
mas raros trazem na alma a pitonisa.
Há aqueles que se curvam ao destino,
conquanto há homens que causam seu futuro,
entregues por Vontade à sua coroa;
Conforme o que se planta, isso é seguro,
será justa a colheita, e esse é o ensino,
nenhum fio de cabelo cai à toa.
Paulo Urban
24 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
CAIBALION – VII
(7º PRINCÍPIO HERMÉTICO)
PRINCÍPIO de GÊNERO
“O gênero está em tudo,
tudo tem o seu princípio masculino
e o seu princípio feminino,
o gênero se manifesta em todos os planos”
O Universo é harmonia em oposição,
em tudo está o Gênero a gerar:
é Urano sobre a Terra a fecundar;
deus Ares e Afrodite em união,
é o núcleo e a eletrosfera em seu pulsar,
é a Lei da Universal Gravitação
que aos corpos estelares em atração
dá provas que os planetas sabem amar.
Também nosso psiquismo é em si dual:
princípio Masculino é sua Vontade,
e o Feminino a Criação mental;
O Eu masculino lança as energias
conquanto o feminino, em paridade,
as desenvolve e engendra novas crias.
Paulo Urban
25 de setembro, MMXVIII
decassílabos heroicos
Ahô!