POR PIEDADE
Sem Número se encontra com Sem Nome.
O Louco é quem interpela ora o Esqueleto:
— Perdão se em tua andança me intrometo;
não tens pra mim um florim? Estou com fome…
Quando eu tiver, devolvo-o, eu te prometo.
— Quem és? Não tens família, um sobrenome?
— Sou mísero Curinga sem renome,
quem dera antes Montecchio ou Capuleto,
mas não, não passo de um pobre sem sorte,
um mero menestrel desempregado,
não tens, minha Senhora, algo ao mendigo?
— Pois, não! Mas não florins! Vem ter comigo!
E por tomar-lhe a mão, braço apertado,
sem fome viu-se o Louco à hora da Morte.
Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo
8 de janeiro, MMXXI
decassílabos heroicos