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Conhece-te a Ti Mesmo

Nada existe de mais real e humano do que a aventura da alma atirada a peregrinar em busca de si mesma, atrás de suas próprias origens e a sonhar com a plena realização de seus inerentes talentos e virtudes, que constituem ‘per si’ seu real tesouro interior. Esta é sua senda iniciática. Por isso, o processo psicoterapêutico, desde que levado a termo com sacralidade tanto pelo paciente quanto pelo terapeuta, traduz-se como exemplo fiel contemporâneo dos antigos Ritos de Elêusis. É ainda a estrada da Paixão (do grego ‘pathós‘ = ‘experiência, contato, sofrimento’) vivenciada em todos os seus mistérios: dolorosos, gozosos e gloriosos.

Porém, vale lembrar que a maioria dos alienados desse mundo não mora lá no céu, mas vive aqui mesmo entre seus pares e passa a vida toda em brancas nuvens, desperdiçando seus dias a defender-se de si mesma, quer seja com remédios ansiolíticos e outras falsas panaceias, quer seja por outros maravilhosos escapes que só mesmo uma sociedade insana como a nossa propicia.

Infelizmente, a grande maioria prefere enganar-se e aceita submeter a vida que leva à miséria de seu próprio torpor e automatismo. Questionar-se pra quê, se vamos todos morrer mesmo, não é? Justamente por isso, por estarmos lidando aqui com o único e verdadeiro tesouro que importa: chama-se alma, e seu valor é incomensurável, algo de ordem espiritual.

E o remédio para esse profundo mal anímico, isto é, a verdadeira medicina para os descaminhos do Eu e, inclusive, para os atropelos dessa conturbada e dessacralizada época em que vivemos, tão carente dos mitos que alimentam e vitalizam e dão significado à jornada da alma, chama-se Autoconhecimento.

O famoso oráculo, Delphos de Apolo, já ensinava:

“Tem em conta, sejas quem fores:
Oh, tu que desejas perscrutar os mistérios da natureza:
se não encontrares antes dentro de ti o que procuras, não irás jamais encontrá-lo fora.
Se desconheces as maravilhas de tua própria casa, como pretendes alçar-te a outras realezas?
Em ti se oculta o tesouro dos tesouros!
Oh, homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”.

CONHECE-TE A TI MESMO

Conhece-te a ti mesmo, diz o oráculo,
só assim conhecerás homens e deuses,
que as almas em jornada são o Elêusis
e a vida em seus Mistérios o espetáculo.

Por isso, te visita muitas vezes,
penetra-te à raiz, ao sustentáculo;
tu és mago, abre o caminho com teu báculo;
pastor, cuida de amar as tuas reses,

são elas teu tesouro, os teus talentos
que pedem prosperar a alma em virtudes,
deixar de se enganar entre os sorrelfos,

de se perder no mar à voz dos ventos.
Se queres elevar-te às beatitudes,
primeiro a ti conhece, ensina Delphos.

Paulo Urban, sonetista do Aquarismo
9 de junho, MMXVIII – decassílabos heroicos

Na imagem: assentada sobre a trípode de bronze, folha de loureiro à mão, a pitonisa de Delphos vaticina através da hidromancia ao consulente diante dela postado.

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