Dado à genialidade da obra e ao grande interesse por ela despertado, atendendo a pedidos, fora prorrogada a exposição de arte de meu amigo italiano Guido Boletti, artista plástico radicado no Brasil, alma mineira, a ocorrer na Casa dos Contos, monumental prédio de Ouro Preto, onde ‘foi suicidado’ o árcade saturninconfidente Cláudio Manuel da Costa.
Sorte a minha, malas prontas, fui vê-la. E fui armado de um telescópio alemão portátil a fim de aproveitar também os encantos do céu plenestrelado de Ninho das Pedras, sítio do amigo poeta Diovvani Mendonça. E assim me lancei à aventura de dirigir até a grande Beagá, 800 km distante de minha lide paulistana, oitocentas histórias adiante das tantas outras mais distantes que lá, um dia outrora fui buscar.
Acompanhado de minha filha, férias escolares, estrada Fernão Dias, sonhos bandeirantes, fomos atrás da liberdade jamais tardia, da alegria dos amigos, de nossa carta de alforria na viagem pras Gerais!
Já à entrada da sala de estar de Ninho das Pedras, recebidos por Diovvani, espantei-me. Havia um Guido Boletti imperial tomando quase paredinteira. Cachaça com boas-vindas mineiras, rápidas atualizações dos velhos sonhos comungados, fomos dormir na expectativa das conversas da manhã seguinte. E ela veio regada a cafezin, com direito à ligação em vivavoz de Guido. Era o artista a nos brindar com suas cores na mais raiada hora do dia. Falamos sobre o quadro, bebendo também da própria lavra verbal de seu compositor, que se pôs a discorrer sobre de tudo um pouco que se move nele.
Lembrou o artista que, ao pintar a tela, havia lido Hemingway. Impressionara-se com a pictografia da história, centrada num protagonista também artista plástico que, tendo se isolado do mundo numa pequena ilha nas corrente(za)s do golfo de Bimini, recebe ali a inesperada visita de seus três filhos, o que o leva a rever sua vida inteira. Cenas principais ficam por conta de uma prostituta que num bar de Havana tece comentários inusitados, filosofando sobre a vida. Publicada em 1970, nove anos após Hemingway ter-se suicidado, ‘Ilhas na Correnteza’ representa sua plena maturidade literária. Guido nos falou ainda do tema central de sua transposição, a conceber na mulher que se ergue ou se debruça, depende dos olhos de quem vê, toda especulação possível das fêmeas que em sua feminilidade se buscam à custa de se perderem de si mesmas e que, atormentadas, grávidas de seus oceanos mais profundos, sonham com o libertário voo da fênix, áureo tesourenterrado na inversão pirata que se fez caber nas huellas da primeira estrofe.
Nasceu assim, minutos após a ligação telepaticofônica e pela intimação provocativa que me fez Diovvani, um soneto homônimo da tela, regado ao melhor café do mundo. E Guido ainda nos acompanharia na segunda-feira seguinte até Ouro Preto, onde pudemos, minha filha e eu, apreciar sua sempriluminada exposição. Quem puder ir que não perca o espetáculo. Quem não puder estar in loco, vale visitar o artista virtualmente:
“Fiquei imaginando como seriam os quadros desse seu amigo de alma – Guido Boletti. Não hesitei, conectei-me com sua galeria virtual e fiquei encantada com a magia das cores e formas em tons musicais”.
(Palavras de A.O., uma admiradora)
Para saber mais sobre Guido Boletti:
www.guidoboletti.net
Para saber mais sobre Diovvani Mendonça:
www.diovmendonca.blogspot.com
Neste endereço estão vários de seus poemas, segundo ele, são “Poeminhas para matar o tempo e distrair a dor de dente”.
www.arvoredospoemas.blogspot.com
Aqui Diovvani convida alguns amigos poetas a escreverem de modo despretensioso a respeito de seus poetas preferidos. São poetas falando de poetas.
O leitor pode ainda conhecer sua Árvore dos Poemas e seu premiado Projeto Pão e Poesia, ao qual fabuloso mestre Guido Boletti já emprestou várias de suas igualmente premiadas telas, sempre a acompanhar os poetas homenageados e seus poemas.
ILHAS NA CORRENTEZA
Nesta mulher pirata eu me debruço
em busca de um tesouro em mim perdido;
qual ilha da paixão chora escondido
o mapa de minh’alma em seu soluço?
Entrego-me de quatro ao bem vencido,
os astros orientam-me o impulso
e eu sangro em sete mares, vento avulso,
sou nau de um labirinto em mestre Guido.
Buscar sempre um tesouro, esta é a Lei!
Nas dores me transformo, e enfim renasço
das cinzas, abro as asas da beleza,
Sou fênix, liberdade em correnteza;
loba do mar, enquanto eu leio Hemingway,
nas cores do destino eu me estilhaço!
Paulo Urban
Sonetacrílico sobre tela de Guido Boletti
Ninho das Pedras, Esmeraldas – MG
8 de janeiro, MMXI – decassílabos heroicos, 11h24min
Querido “mestreamigoirmão”!
Maravilhosos os tres mundos que aqui visitei neste curto/longo momento; a narrativa linda e poética de tua viagem! Pareceu-me estar lá com vcs tomando o café e papeando. Senti o cheiroooooo do café, o som das vozes, a energia maravilhosa do encontro de inteligências criativas.
O quadro de Guido Boletti…istigante, mexe-nos a alma…obra de arte!!!!!
Teu soneto, Lindo demais!!!!!
Quero colocar aqui, também, um pedacinho de frase que me bombardeou – “… toda especulação possível das fêmeas que se buscam em sua feminilidade à custa de se perderem de si mesmas e que, atormentadas, grávidas de seus oceanos mais profundos……” ixxxxxxxe, como dixem nas Gerais e bááááááhhhhhhhhhh como nós aqui.
Mais uma vez, obrigada mestre amado!
Te beijo com carinho e respeito aqui deste extremo sul que mais parece Senegal…..rsss
Maitê
PS: ainda vou viajar pelos sites que recomendas.
…grávidas de seus oceanos mais profundos, sonham com o libertário voo da fênix…
Como uma luva, tamanho exato!
Bravo, bravíssimo!
Giselle
Existe muito mais vida do que aquela que nossos olhos e sentidos alcançam nas primeiras leituras.
Grata por mais esse presente.
Beijencantado,
Alessandra
Oi, Amigo sonetista, Paulo!!!
É com alegria que aqui venho deleitar-me no mar de palavras, cujas ondas são aquelas que a emoção de suas obras consegue evocar…
Poeta dos oceanos profundos, emanador do encantamento mais delicado de um ser: capacidade de fazê-lo (o leitor) viajar em mundos diversos somente no ato de compartilhar sua poesia com os nossos corações apreciadores…
As obras são incríveis, de Guido e Diovanni…
Beijos da amiga:
Cindia de Oliveira
Cíndia:
Teu comentário foi só poesia!