Eu e o Louva-a-deus
(sonetábula/fabuleto)
“Carpe diem quam minimum credula postero” (Horácio, 65-8 a.C.)
Quando encontrei o louva-a-deus, mãos postas como soem fazer estes bichinhos, nem me dei conta do quão insólito era meu matinal encontro, à beira da piscina.
Quando vi que me falava, foi que percebi: não era outro senão Chuang Tsé, o mais próximo discípulo do velho sábio Lao-Tsé; sim, bem aqui, sentadinho sobre a relva do jardim. Platão já houvera dito que as almas dos austeros trabalhadores reencarnam feito abelhas; talvez o mestre concordasse que os louva-a-deus devam ser, pois, a reencarnação dos sábios monges, dos que passam suas vidas em oração, dos que em seu silêncio nos ensinam a escutar o vazio. O verde monge, esquálido, mas perfeito em sua postura, assim me disse: “… seja o poeta leve como a pluma, e sua poesia será tão grande quanto o mar; sejam ainda inspirados os seus versos pela espontaneidade das ondas que surgem umas sobre as outras para logo em seguida deixarem de existir, pois, a poesia sem esforço é como o Tao e, se verdadeira, nada mais que o puro som do coração”.
E foi assim que comecei meu dia, atento à preleção do louva-a-deus, monginseto que em sua magnânima delicadeza, mãos postas, suavemente distinto, revelava-me sua alma sã por saber feliz viver seus dias.
MONGE VERDE
Atormentado estava em labirinto,
sentei-me a meditar em meu jardim,
e os sonhos se fizeram de cetim,
de um perfumado em rosa qu’inda eu sinto.
E o monge se sentou perto de mim,
mãos postas, patas verdes, ser distinto,
falou-me o louva-a-deus, juro, não minto,
mimetizado à relva do capim:
“Por que tanta inquietude, amigo moço?
Soubésseis que esta vida é breve história,
jamais vós sofreríeis em sine die…
Que a morte em seu Mistério engole o poço
e tudo o que levardes n’alma em glória
será o que viveis em carpe diem!”
Paulo Urban, Sonetista do Aquarismo
22 de abril, MMXI – decassílabos heroicos
15h33min – Sexta-feira da Paixão
Sempre terno, atento, na simplicidade do cotidiano encontrando a sabedoria do Mestre, seja Lao-tsé ou Jesus, que em tudo está e como também em ti, que O encontra com intimidade e nos revela em palavras andando. Gratidão. Saudades.
Kátia, que benção não me trouxe o monge em tê-la tão suave por aqui… sim, era fragrante a rosa, incrível isso; pela manhã desse dia ela já houvera me levado até aí.
O Criador expressa-se em tudo aquilo que gerou e, assim como o louva-a-deus naquele momento transmitiu o sagrado momento da oração, também o faz uma mãe amamentando sua cria, lembrando o divino princípio do amor, presente em ambos os casos. A experiência do irmão mostra sua profunda interação com o supremo, permitindo-o ler com clareza as maravilhosas Cartas de Deus, presentes embaixo de cada folha caída no chão, e em todos os movimentos da Natureza.
Pequenas atitudes de cada um fazem um mundo melhor para todos. Acredito que gestos como o do louva-a-deus e os seus, com certeza transformam nossa existência em algo divino.
Grata,
Sabe, Paulo, eu sou #FATO uma mulher abençoada. Justo agora, neste exato momento, quando eu mais precisava de um louva-a-deus,…. eis que me chegas com este ser, este monge verde, e, de novo, a esperança, all green!
É táo perfeito soneto, táo sábio louvor. muito a agradecer, Paulo. #Gratitude.