O PODER DOS MANIFESTOS
(Texto de Paulo Urban, publicado na Revista Nova Consciência, edição # 1, outubro/2007, da qual o autor foi editor-chefe).
Paulo Urban é médico psiquiatra e Psicoterapeuta do Encantamento.
Três textos esotéricos do século XVII conclamam os homens a criar um mundo melhor, centrado em uma nova ordem espiritual. Juntos, eles compõem uma espécie de matriz da mente coletiva aberta a uma Nova Consciência.
Com o advento da imprensa de tipos móveis, os parisienses do século XVII estavam acostumados aos cartazes-notícia que eram semanalmente colados sobre os muros e postes de toda a cidade. Numa manhã de agosto de 1623, entretanto, foram surpreendidos pelo teor enigmático de um panfleto que fora espalhado na fria surdina da madrugada, cujo tom era conclamativo:
“Nós, membros do Superior Colegiado da Fraternidade Rosa-Cruz, dirigimo-nos a todos os que desejam filiar-se à nossa Irmandade, a quem transmitiremos o conhecimento da suprema sabedoria. Fazendo-nos agora visíveis e invisíveis nesta cidade pela graça do Altíssimo, para Quem se voltam os corações dos justos, podemos ler e ensinar sem a ajuda de livros nem sinais em todas e quaisquer línguas, seja qual for o país em que desejamos estar, a fim de salvar nossos semelhantes dos erros e da morte.
Os que a nós se voltarem por mera curiosidade, jamais se comunicarão conosco; mas se a vontade de se juntar à Confraria for realmente genuína, nós os encontraremos do mesmo modo que estes saberão reconhecer-nos”.
A Igreja, que há um século vinha sendo admoestada pela Reforma Luterana, reagiu prontamente contra estes insurgentes invisíveis, ameaçando-os de excomunhão. A polícia francesa, a despeito das investigações, rendeu-se ao anonimato dos manifestantes, suficientemente abastados para fabricar o pergaminho impresso em uma gráfica própria.
Mas quem eram esses rosa-cruzes? O que eles queriam? Embora sejam muitas as seitas e ordens que hoje se dizem herdeiras de seus ideais, o fato é que ainda paira uma nuvem de mistério sobre a própria origem desse movimento que deflagrou o estopim para que os homens aspirassem a uma nova ordem espiritual, além das bases hegemônicas da Igreja.
René Descartes (1596-1650), atento à sua época, ainda que educado pelos jesuítas, deixou-se seduzir pelo caráter filosófico do manifesto que anunciava novos tempos para a humanidade. Anos antes, ouvira falar dos rosa-cruzes quando de suas viagens pela Alemanha, onde teria se encontrado com um dos cavaleiros desta Ordem. Tão logo a Igreja cobrou dele um esclarecimento diante do furor da opinião pública que o associava à Irmandade, o filósofo negou pertencer ao movimento, dizendo nada saber a respeito. Mais tarde, porém, quando latinizou seu nome para Cartesius, muitos leram aí a senha que identificava a abreviatura de seu novo nome, R.+ C., com os secretos rosa-cruzes.
Paris, predestinada a gritar ao mundo os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, por ora apenas repercutia o eco revolucionário do esoterismo alemão. Ao longo dos séculos XVI e XVII, correntes messiânicas a afrontar a hegemonia católica varriam a Alemanha. Não à toa germinaria aí a semente da Reforma, bem regada pelos nobres descontentes com a intromissão dos papas em seus interesses político-econômicos. Paralelamente ao espírito renascentista italiano que recuperava para o mundo o hermetismo clássico e a cosmogonia neoplatônica de Plotino (204-262d.C.), base do gnosticismo e da alquimia, os intelectuais alemães haviam construído todo um saber esotérico, cujas raízes vinham das entranhas dos povos magistas do Egito e do Oriente Médio. Geograficamente, a Alemanha era o elo entre a mitologia dos bárbaros do norte, aceites à magia – e a Tradição esotérica do sul – influenciada pelos ritos de Elêusis, pelo Orfismo e pela Escola Pitagórica.
Expoente da cultura ocultista germana é Wolfram von Eschenbach (1170-1220), poeta trovador cuja obra-prima, Parzival, é um poema épico da mítica arturiana. Escrito entre 1200 e 1210, retrata a Ordem dos Cavaleiros da Pedra Dourada, irmandade mista devotada a proteger no secreto Castelo de Munsalvaesch, o Cálice do Santo Graal, descrito como uma pedra entregue à humanidade por uma legião de anjos, cuja propriedade é a de curar a rejuvenescer todo aquele que domine seu segredo. O épico influenciaria Richard Wagner (1813-1883) a compor a parte culminante de sua ópera homônima, que estreou em 1882.
Mestre Eckhart (1260-1327), Nicolau de Cusa (1401-1464) e Cornelius Agrippa von Nettesheim (1486-1533) são nomes que devem ser lembrados, mas nenhum deles ultrapassa a fama de Paracelso (1493-1541), pai da alquimia médica, cujas idéias lançaram as bases da Homeopatia. Paracelso influenciaria ainda Jacob Boheme (1575-1624), o sapateiro filósofo de Görlitz.
Pois foi nesse cenário fervilhante que os rosa-cruzes escolheram surgir ou renascer. Em 1614, publicava-se em Kassel, oeste da Alemanha, um manifesto intitulado Fama Fraternitatis, des Löblichen Ordens des Rosenkreutzes (Fama Fraternitatis, ou a Louvável Ordem dos Rosa-cruzes), cujo texto já circulava discretamente desde 1610, sob a forma de manuscrito no meio erudito.
A edição do Fama em forma de livreto vinha acompanhada do opúsculo Allgemeine und General Reformation, der gantzen weiten Welt (Reforma Geral de Todo o Amplo Mundo), de autor também desconhecido, recontando em alemão a alegoria Ragguagli di Parnasso (Notícias do Parnaso), publicada em 1613 na Itália, pelo satirista Trajano Boccalini. O monte Parnaso, 2.457m de altura, era consagrado aos deuses gregos. Castália, uma de suas encostas mais baixas, era a bucólica morada das musas, que viviam em torno de uma nascente dedicada a Apolo. Segundo Boccalini, o local fora palco de um frustrante conclave. Preocupado com o egoísmo humano, Apolo convocara ali seus “letterati”, os sete sábios da Grécia, com os quais queria aconselhar-se acerca do que fazer com a crescente corrupção dos homens.
Pitaco de Mitilena propõe a criação de leis que forçassem os governantes a melhor tratar seus súditos, mas Periandro o refuta, afirmando que o mal estava nos cidadãos que vivem a bajular seus príncipes. Cleóbulo de Lindus defende que o mal estava no ferro, com o que mais se moldavam as armas do que o arado. Chílon de Esparta propõe a Apolo que acabe com toda a prata e ouro do mundo, motivo de tantos crimes. Bias de Priena, já àquela época preocupado o ambiente, adverte que a razão do mal era o homem querer ultrapassar os seus limites, e Sólon de Atenas, apontando as injustiças, sugere uma radical redistribuição dos bens. Mas Tales de Mileto, último a falar, observa que a sociedade nem tanto precisa de uma reforma, senão de caridade, e propõe que simplesmente se faça abrir uma chaga no coração dos homens, capaz de torná-los transparentes em suas intenções, de modo que sempre preferissem agir de modo honesto e amoroso.
Metáforas à parte, a reforma geral do mundo era um tema forte do anseio renascentista, libertário por natureza, e refletia também o descontentamento com a opressão católica, que teimava respaldar seus dogmas sobre o intocável saber de Galeno (131-200 d.C) e Aristóteles (384-322 a.C.), os dois pilares da ciência moderna. Era, pois, providencial a publicação de Kassel. Se a Reforma Geral do Mundo apontava a podridão humana, o Fama propunha que a salvação estivesse ao alcance de todos os que acreditassem numa sociedade fraterna.
Em linhas mestras, o Fama revelava a existência da Fraternidade Rosa-cruz, fundada por Christian Rosenkreutz (1378-1484), sábio alemão que teria dedicado seus longevos 106 anos de vida à oração e à alquimia. Segundo o estranho documento, o mestre profetizara o alvorecer de uma nova civilização e elaborara um plano para que se mantivesse secreta sua tumba até que, anos mais tarde, em momento oportuno, fossem descobertos tanto o tesouro quanto a sabedoria nela guardados, capazes de promover um verdadeiro despertar espiritual na humanidade.
A história é fascinante! Os rosa-cruzes, inicialmente sete além de Christian, tinham por obrigação não praticar outra coisa senão a cura metafísica, sem nada cobrar por ela. Comprometiam-se ainda a agir de modo anônimo, não usando vestes que os caracterizassem, e mantinham o propósito de, distribuídos em missão pela Europa, encontrarem-se uma vez ao ano na casa do Sanctum Spiritus, a fim de tratar das estratégias da Irmandade. Cada um dos irmãos deveria ainda procurar alguém mui digno a fim de instruí-lo para que, após sua morte, pudesse sucedê-lo em sua função. Juravam manter secretos a palavra de passe e os sinais que lhes permitiam o mútuo reconhecimento e, especialmente, propunham ocultar a organização por cem anos, até que em situação histórica favorável, pudessem vir a público e conclamar os que estivessem em sintonia com seus ideais a ingressar a corrente em prol de um mundo melhor e renascido.
Embora de linhagem nobre, Christian nascera num lar tão pobre que seus pais, não podendo criá-lo dignamente, confiaram sua educação a um mosteiro, onde o menino aprendeu o latim e o grego. Aos 15 anos, iniciaria uma peregrinação à Terra Santa em companhia de seu tutor, mas o rapaz jamais chagaria a Jerusalém. Quis o destino que o monge com quem viajava morresse na Ilha de Chipre, razão pela qual Christian seguiu sozinho à Turquia e daí até Damasco, no Oriente Próximo. No mundo árabe encantou-se com magos experientes que o receberam como se ele há muito fosse esperado. Os anciões o trataram com deferência, iniciando-o na ciência dos números, nas artes médicas e na sabedoria de seus textos sagrados, especialmente no mítico Livro M, que o jovem traduziu para o latim.
Dali a três anos, a bordo do ‘Sinus Arabicus’, o aprendiz foi encaminhado ao Egito, onde viveria uma década entre os sacerdotes, a fim de ser admito aos grandes mistérios. Em sua viagem de retorno pelo Mar Mediterrâneo, aportou em Fez, no Marrocos, onde se encontrou com os ‘habitantes elementares’ que lhe revelaram outros segredos. Ao perceber como turcos, egípcios e árabes de diferentes regiões mantinham eficiente entrelaçamento cultural entre si, lamentou que na Europa os homens cultos preferissem viver isolados uns dos outros, fato este que o teria levado a idealizar uma irmandade cujos membros aspirassem aos mesmos ideais, em torno da qual os homens pudessem reunir-se, livres dos dogmas e das doutrinas, em nome de uma sociedade mais justa. Teria dito: “… assim como em toda semente está contida uma boa árvore e seu fruto, vejo que no corpo do homem esteja incutido todo o mundo, cuja religião, política, saúde, natureza, línguas, palavras e obras são concordantes e solidários, em perfeita harmonia com Deus, o Céu e a Terra; e aquilo que está em discordância com isso tem sido a causa do erro e da falsidade, também da cegueira e das trevas do mundo”.
O Fama Fraternitatis revelava detalhes de como o irmão N.N., membro da terceira geração dos rosa-cruzes, ao reformar o prédio que herdara de seu antecessor, irmão A., encontrou incrustada numa das paredes uma placa de bronze, na qual estavam gravados os nomes dos primeiros oito irmãos. O memorial estava preso por enorme prego que a muito custo foi retirado. Por trás do reboque, soltou-se então uma pedra que, por sua vez, revelou uma passagem oculta. No dia seguinte, na presença dos demais irmãos, derrubada a parede, desvendou-se a cripta de Christian Rosenkreutz, onde repousava intacto o seu corpo! O umbral trazia a inscrição: Anno Domini MDCIV, Post CXX Annus Patebo (ano da Graça de 1604, após 120 anos voltarei). Incrivelmente, era o exato ano de sua descoberta, que permitiu não só saber quando precisamente falecera o mestre como atestar seu agudo vaticínio.
A revelação da tumba, segundo o Fama, era o sinal que autorizava os rosa-cruzes a anunciar ao mundo a existência da Fraternidade. No ano seguinte, 1615, outro folhetim, agora em latim, veio a público em Kassel. Era o Confessio Fraternitatis R+C, ou “Confissão da Fraternidade Rosacruz”. Se o Fama exortava os homens de bem a retomar as artes e as ciências em prol de um mundo melhor, e pedia que fosse trocada a ilusão pela verdade, o Confessio enaltecia os rosa-cruzes e estabelecia 37 razões para pertencer à Irmandade; reforçava ainda seu fundamento cristão, mas opunha-se à tirania papal. O polêmico documento dava continuidade ao mito.
Encerrando a tríade misteriosa, em 1616, escrito em alemão, veio à tona em Estrasburgo o mais hermético dos três trabalhos, Die Chymische Hochzeit von Christian Rosenkreutz (O Casamento Químico de Christian Rosenkreutz), uma alegoria possivelmente inspirada no famoso matrimônio protestante ocorrido em 1613, entre Elizabeth, filha de Jaime I, Rei da Inglaterra, com aquele que logo seria Frederico V, rei da Boêmia.
O texto é uma narrativa elegante em primeira pessoa, do próprio Christian Rosenkreutz, contando de como fora visitado por um anjo em sua cela monástica e de como dele recebera o convite para as bodas entre um rei e uma rainha a serem realizadas num maravilhoso castelo, no ano de 1459. Aceitando comparecer, Christian enfrenta obstáculos e estranhas provações, mas triunfa e finalmente chega ao casamento, cuja cerimônia já havia começado, numa velada metáfora ao difícil progresso espiritual necessário até que os dois elementos opostos da alquimia, macho e fêmea, seco e úmido, possam comungar da plena síntese. A obra é enigmática, rica em símbolos astrológicos e princípios da magia. Nela, o mestre rosa-cruz é tratado com honrarias e feito cavaleiro da Ordem da Pedra Dourada, alusão ao segredo da Pedra Filosofal, que lhe teria sido revelado em seus anos de estudo no Oriente. Semelhantemente ao Fama e ao Confessio, o livreto fazia questão de evidenciar que a verdadeira transmutação alquímica é espiritual, que o ouro que se busca não é o vulgar, mas o transcendente.
Ninguém sabe até hoje afirmar precisamente quais são os autores dessas três seqüenciais publicações. Entretanto, Johann Valentin Andreae (1586-1654), em sua autobiografia Vita ab ipso Conscripta, escrita em idade madura, quando já era um respeitado pastor luterano de Vaihingen, assumiu a autoria do ‘Casamento Químico’ (que alcançou o sucesso de seis edições), com a ressalva de que ele próprio não era membro da Fraternidade Rosa-cruz, a qual dizia não conhecer, afirmando que escrevera seu opúsculo por mera diversão no ardor da juventude, em 1605, uma década antes de sua publicação.
Uma soma de coincidências biográficas, porém, leva-nos a crer que Andreae estivesse dizendo somente meia verdade. Tendo nascido em Herrenberg, ainda criança mudou-se com a família para Königsbronn, onde seu pai, também chamado Johann Andreae, morreria em 1601, em ascendente carreira no clero luterano. A mãe de Andreae, a fim de buscar guarida para a família, dirigiu-se para Tübingen, onde seu sogro, Jacob Andreae, chamado de o ‘Lutero de Württerberg’, era reitor da Universidade. O velho Jacob, afeito à alquimia, ao acolher o neto em sua casa, acabou por colocá-lo em contato com a nata intelectual de sua época. O talentoso rapaz logo ingressaria na Universidade, onde precocemente receberia, em 1604, o título de mestre. Além disso, envolver-se-ia com Christopher Besold, um dos maiores alquimistas de seu tempo, fluente em nove idiomas, estudioso da cabala, homem que defendia a unificação de uma Europa livre da dissensão religiosa. Besold teria sido uma espécie de mentor dos manifestos Fama e Confessio, cuja autoria, presume-se, tenha a lavrada participação de Andreae. Ele teria também sugerido ao jovem que escrevesse a alegoria do Casamento Químico de Christian Rosenkreutz.
Corrobora dizer que o mais importante trabalho de Johann V. Andreae, profícuo escritor, é Christianopolis, 1614, obra em que se apresenta uma fraterna sociedade utópica, livre dos dogmas da Igreja de Roma, cujo título não só alude a uma nova ordem cristã como homenageia nominalmente seu mestre alquimista. Em seu ensaio de 1619, intitulado Turris Babel, Andreae adverte-nos estranhamente: “Ouvi, ó mortais, em vão esperais pela vinda da Fraternidade, a Comédia está no fim”. Convém frisar que Andreae viveu numa Alemanha que via nascer as primeiras sociedades secretas.
Em 1617, por exemplo, surgiu a Fruchtbringende Gesselschaft (Sociedade Frutificadora), criada pelo príncipe Ludwuig von Anhalt, da qual Johann V. Andreae era membro fundador, ao lado de nobres cujo ideal era o de unir as pessoas em torno do bem comum. A insígnia da confraria mostrava um coqueiro com o dístico “Alles zu Nutzen” (Tudo em Benefício). Ela nascia inspirada nos preceitos da Orden der Indissolubilisten (Ordem dos Inseparáveis), talvez a mais antiga Ordem da Alemanha, fundada em 1577, de cujo arcabouço teria se erguido a Fraternidade Rosa-cruz. Entre seus fundadores estavam os donos das minas e casas de fundição, comerciantes avidamente interessados nos avanços da alquimia. Documentos que cruzaram os séculos, guardados pela loja maçônica “Zu Freudschaft” (Em Irmandade) de Berlim, revelam afinidades entre esta organização e o teor dos manifestos rosa-cruzes, que propunham uma reforma espiritual no mundo, semelhantemente às principais idéias de Andreae.
Na II Guerra, porém, os nazistas destruíram grande parte desses registros, mas há cópias e outras peças fidedignas sobreviventes em vários templos da maçonaria, por exemplo, a Loja Archimedes, de Altenbug. Também no meio profano há indícios da íntima relação entre os rosa-cruzes e a “Ordem dos Indissolúveis”, por exemplo, na Biblioteca Estadual de Stuttgart acha-se um elo chave entre as duas irmandades: é um manuscrito alquímico datado do século XVIII, atribuído à Gold-und-Rosenkreutz (Rosa-cruz Dourada), cujo frontispício é cópia de um tratado de 1580, pertencente à Orden der Indissolubilisten..
Tiremos disso o destilado: Johann V. Andreae, cuja criação se deu entre os ocultistas de seu tempo, que se fez membro da Sociedade Frutificadora, que muito provavelmente pertenceu à Ordem dos Inseparáveis e que viveu acreditando num mundo reformado pela verdadeira Luz do Espírito, passa a ser, portanto, o mais provável autor dos manifestos que reviraram a Europa do século XVII. E, claro, teria escolhido o fictício nome do Pai dos rosa-cruzes, inspirando-se na forte personalidade de seu mestre Christian Besold. Sua negação do fato assemelha-se ao cuidado de Descartes em desvincular o próprio nome de qualquer especulação sensacionalista que pudesse comprometer os secretos e nobres ideais da Irmandade.
Ainda que oficialmente paire a dúvida quanto à autoria dos manifestos, inegável é a força transformadora que eles detêm. É o cerne alquímico de sua proposta que responde pelo extraordinário frisson coletivo que estas publicações causaram em Paris, de onde seus ideais se espalharam pelo mundo.
Um dos raros que enxergaram a verdade por trás do véu dessa história foi o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). Sua pena tem algo de precioso a nos dizer sobre O Túmulo de Christian Rosenkreutz, ‘Grande Pai Rosacruz’, cujos segredos oclusos junto ao peito anunciam ao mundo uma nova consciência capaz de acrescentar luz às estrelas e mais amor ao coração dos homens. Assunto para outra matéria.
Parabéns pelo histórico, realmente muito bom!
Tantos mistérios a nos rondar durante milênios, tantas redescobertas à disposição de nossas sedes, pistas e rastros cuidadosamente embalados para leitura como no primoroso texto acima, e muito poucos os que realmente se dedicam à Senda.
Não eu, que mergulho nesta corrente e me sinto parte íntima deste Universo. Sempre encontro portas abertas…hahaha…grata sou!!!