MARTE

Acompanha-me o cão, também o abutre;
sou Marte, porto a guerra, sou Nergal(1);
sou lâminas de espada, sou metal,
sou tudo o que a Alquimia em ferros nutre.

Sou deus em falo impávido e amoral,
ousado e inda odiado, mas não futre;
viril para que Vênus(2) bem desfrute,
reino intrépido além do bem e o mal.

São Medo e inda o Terror(3) meus serviçais,
atendem meus caprichos, dão-se em sangue
a fim de que os domínios meus prosperem.

E quando ao fim das lutas vão, conferem
os mortos que eu recruto de alma-exangue
e os mando ao encontro de Hades e ancestrais.

Nicolau Nicolei de Ptolodamus
Astrólogo do Rei
Porta-Céu de onde estamos
decassílabos heroicos
Sol a 3º21’18” de Leão
Lua Minguante a 19º30’31’’ de Áries
Marte a 27º18’47’’ em Escorpião, em casa X
Aquário Ascendente a 17º12’

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Notas mítico-astrológicas (por Paulo Urban):

(1) Nome pelo qual é conhecido o planeta Marte entre os assírios, sumérios e babilônios.

(2) Marte é filho legítimo de Júpiter e Juno, e mal visto por ambos os seus pais. Na Ilíada de Homero, Zeus (Júpiter) chega a chamá-lo de ‘mentiroso de duas caras’. Quem o admira, sobretudo, é Vênus, que fez dele seu preferido amante, e ainda Hades, que o estima como a um parceiro, haja vista o tanto de novos ingressos que chegam ao reino dos mortos por responsabilidade exclusivamente sua.

(3) Phobos (o medo) e Deimos (o terror) são ainda os nomes dos dois únicos satélites naturais de Marte. Curiosamente, antes que os telescópios do século XVII os avistassem, os antigos já haviam precisamente intuído sua existência.

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Para ler outro sonetastrológico de Mestre Nicolau, acesse: Sol.