Das Falsas Provas e do Verdadeiro Provar
Por Lúcia Zenite
(poetisa e crítica literária)
“Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que não o conhecêssemos,
Por isso não se mostrou”.
(Alberto Caeiro)
Todos os argumentos filosóficos que provam a existência de Deus em verdade nada provam senão que temos alguma ideia (sempre imperfeita) de Deus.
Por isso, descarto Descartes. Não, não ‘penso; logo, existo’; antes existimos, e é por isso que pensamos’. Muito embora não devamos esquecer que ‘pensar é errar’, já o disse Fernando Pessoa.
Destarte (só pra rimar com Descartes), meus pensamentos serão de todo fúteis e inúteis, e minha argumentação assaz inócua se me propusesse a tentar provar essa existência, a de um Deus (criador?) fora de mim.
Porque se Deus desejasse ser provado não teria desde sempre se mantido oculto. Eis o maior engano dos filósofos: Deus não se prova por argumentos e raciocínios, menos ainda acertam os religiosos que querem fazê-lo tomando por base as sagradas Escrituras. Única maneira de se provar a existência de Deus seria provar Dele de fato, a dizer, Seu maior mistério consiste no fato de que, embora não possa ser provada Sua existência, esta se permite conhecer através de nossa ‘experiência’ d’Ele. Só assim que Deus ‘se prova’, não porque permita demonstrar Sua existência, senão pelo chamuscado que rompe em nossas almas dado à realidade desse fogo que nos transforma quando quer que O experimentemos assim, dentro em nós; só assim sentimos Seu sabor, Sua cor, inda Seu cheiro e mais textura… e estremecemos, claro, diante do tremendum que nos causa essa impressão à presença viva de Seu Verbo.
É nessa hora que tiro meu chapéu ao pastor de ovelhas mestre Caeiro, que primeiro matou a charada, pois uma vez havendo Ele entrado por nosso coração, já está de velho amigo a falar conosco, a nos contar sobre as flores e as crianças, sobre o vento e as montanhas, e a respeito desse insólito Mistério que nos encanta a alma de divinas maravilhas. Se Deus existe? Não há como provar… sem provar da água própria de Sua fonte, aquela que aplaca toda sede e nos inunda de sápida Verdade.
__________________________________
Conheça também os “Sintaforismos” da poetisa Lúcia Zenite